domingo, 5 de abril de 2009

estive pensando.

"hedonismo 1) a doutrina que considera o prazer ou a felicidade como o único ou principal bem da vida; 2) estilo de vida de iluminação e gozo; 3) uma perspectiva muito agradável"
manual do hedonismo - michael focker

em algum momento desse ano eu devo ter soltado uma travinha maldita. poderia até arriscar um momento exato, mas como blog é público e sabe-se lá quem lê essas baboseiras fielmente escritas aqui, vou me conter.
mas a verdade é que eu tenho cometido verdadeiras insanidades e alguém, de verdade, precisa começar a me controlar.

eu sou uma pessoa tímida. sério. tirando os momentos que eu tô nervosa, que aí falo muito, ou estou sob ébria influência faço de um tudo pra entrar e sair (de prefêrencia) dos lugares sem ser percebida. até na sala de aula sofro daquele mal conhecido de gente tímida de não ousar falar ou perguntar nada ao professor, é uma angústia. tímido que é tímido sabe o que é isso, é um sofrimento diário. o professor pergunta, você sabe a resposta mas não há santo que te faça falar.

pois bem, outro dia na minha aula de direitos humanos constatei a minha falta de trava; depois de assistir um vídeo introdutório sobre o que são direitos humanos a professora abriu pra um debate, e aí veio o momento. não, claro que eu não saí falando, uma aluna começou a falar de um dos trechos, que era sobre o sequestro do ônibus 174, do filme, e em dado momento falou que apesar do pesares a gente devia entender o lado dos tais policiais do bope que fizeram a merdinha no fim. e aí, aconteceu, na hora eu soltei um riso, totalmente sem querer, e aí olharam pra mim. imediatamente senti meu rosto queimar, e aí já era tarde demais, fui obrigada a justificar meu risinho desdenhoso. maldita (faltade) trava. falei uns 10 minutos, e quando vi tinha instaurado uma discussão inflamada sobre o assunto.

ok, me senti bem, iniciei o caos na aula pacata que é direitos humanos e depois fiquei assistindo. uma conquista pro time dos tímidos. agora, a falta de trava nem sempre vem nos momentos acadêmicos, e é aí que mora o perigo.

uma amiga minha veio conversar comigo outro dia, pedindo justificativas para os meus surtos e eu, num discurso hedonista que nunca me pertenceu justifiquei falando que; "ah camila, você tem que se jogar, pára de passar vontade" e ela olhou e disse que não me reconhecia. taí, manêro. gostei da idéia de não ser eu. a nova élide então, comprou um livro pra aderir como bíblia, que foi "o manual do hedonismo" e vem seguindo até então. logo abaixo do título tá escrito assim "dominando a esquecida arte do prazer" e quem conhece esses gregos sabe que os caras sabiam se divertir. resumo, pra alguém como eu, ler algo assim é tentador, e justamente por isso, perigoso. no maior dionísio estáile venho surtando consideravelmente ultimamente e o que no começo era graça, agora tá virando dor de cabeça. quem já teve essa idade e/ou esteve nesse time dos gregos sabe que a graça tá nos primeiros 10 minutos da coisa. tá, ok, na primeira semana. toquei el joda-se e vim fazendo tudo o que queria fazer; se não tava com paciência pra aula, não ia, se queria beber em dia de semana, bebia, se tava com raiva de algum amigo ignorava ou xingava e outras pequenas permissões as quais me recuso a expor mais por apreço a mim e aos envolvidos, e o resultado foi surpreendente. claro que devo ter atrasado um câncer por guardar toda essa vontade por alguns anos mas em compensação essas pequenas permissões de "prazer" me renderam alguns maus bocados. esse gregos deviam viver pouco. é sério. hoje quando acordei com aquela conhecida dor de cabeça me senti com 60 anos. qual é a graça de bater estaca a noite toda se entupindo de cerveja? e o pior, tudo acontece num flash de 10 minutos, você estava de corpo, mas nunca de espírito.

deixei de lado o manual, minha mente é fraca e fiquei com medo de ler até o final. comprei outro, o nome é "como me tornei estúpido", (pede um risinho o título, eu sei) mas a história é gostosa, (vale a pena googlezar) e o que eu gostei mesmo foi do (curto) resumo da vida do autor; "martin page nasceu em 7 de fevereiro de 1975 e estudou antropologia. convencido de que a escrita não exige a convivência em ambientes hostis martin page tenta, até hoje, e desesperamente, levar uma vida tranquila". tenho vontade de ser amiga de um cara desses quando leio algo do tipo. dá pra imaginar uma vida melhor do que reclusão e escrita? melhor, a tentativa - desesperada - por uma vida tranquila?

dionísio pode me odiar agora mas enquanto eu não descubro os meios secretos de lidar com essa vida de festa os gregos vão ter que me desculpar, troco o hedonismo por tranquilo (adj. quieto; sossegado; calmo; certo; seguro.) e volto com a minha trava e timidez.

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