domingo, 26 de abril de 2009

quote.

'com o tempo aprendi que o ciúme é um sentimento para proclamar de peito aberto, no instante mesmo de sua origem. porque ao nascer, ele é realmente um sentimento cortês, deve ser logo oferecido à mulher como uma rosa. senão no instante seguinte ele se fecha em repolho, e dentro dele todo o mal fermenta.'

buarque, chico. leite derramado.

sábado, 25 de abril de 2009

less is more.

se tem uma coisa que é mito é sexo e romance visto em filme. e é uma mentira respaldada por inúmeros filmes produzidos e transmitidos em cinemas, sessões da tarde e filmes inocentemente expostos para alugar. filmes estes que vemos desde que somos pequenos e desde já, enganados com algo que nunca se realizará.

eu lembro que quando era pequena, tinha um sono muito demorado e devido a inúmeras horas de "chama meu pai, chama minha mãe" passei a dormir algumas noites no quarto dos meus pais, onde comecei a ver os filmes que eles viam (nada pornô galera, mas pra uma garota de 7 anos até cena de estalinho é atrevimento) mas nunca consegui ver tudo. meus pais sempre censuravam cenas e eu sempre tinha que tampar o olho nas consideradas ousadas demais pra minha idade. claro que eu sempre tentava dar uma espiada pra ver e desde aquela época achava muito duvidoso aquela animação toda exposta na tv.

fico pensando, meus pais gostam tanto de mim, me querem tanto bem, podiam ter me ensinado desde já que aquilo mostrado na tv e não só o sexo, mas todo aquele romantismo exagerado, como 10 buquês de rosas, ou seu namorado lembrando a roupa que você usou no primeiro encontro, é mentira, e que provavelmente só vai se realizar em momentos pra lá de especiais, como 1 ano de namoro ou na reconciliação pós chifre, e olhe lá!

essa semana tava assistindo um filme cafona brasileiro com uma amiga, e começamos a analisar quanta mentira tem em uma cena de romance e sexo em filme. o casal em questão combinou quando adolescente de se encontrar todo dia tal de abril na pedra do arpoador todos os anos, independente do rumo da vida deles, primeira mentira; você já imaginou você combinando com um amor de adolescência um encontro pro resto da vida? fico lembrando dos seres que eu gostei quando era adolescente, e tudo o que eu menos quero é carregar o fardo de encontrá-los pro resto da vida, e já imaginou, pedra do arpoador? lugar bonito, ok, mas clichê, e imagina se for num puta dia de chuva? não há romantismo que aguente trovões e chuva num lugar incoberto!

ok, vamos ignorar o romantismo barato e analisar a cena de sexo do casal. era um daqueles sexos ultra animados, meio violento e coisa e tal que até aí convence, afinal eles só se encontram uma vez por ano, agora, tudo o que eu consigo imaginar quando vejo uma cena dessas é; "imagina a bagunça que eles vão ter que arrumar depois disso?", porque sexo de verdade não corta pra uma cena bonitinha com o casal se casando no final, na vida real toda aquela mobília arranhada, móveis arrastados, vasos quebrados, vão continuar lá te esperando! e ninguém nunca sai machucado dessas cenas, nunca. a mulher não reclama de puxão de cabelo, o rapaz bate com as costas dela na porta, eles rolam pela mesa, fazem sexo no chão frio - sempre sem barata - da cozinha ninguém usa nenhum método contraceptivo e no fim ainda chegam juntos ao orgasmo, uma maravilha. pena que não é verdade. tá, não tô dizendo que não acontece, mas em todo filme é a mes-ma coisa.

esses filmes são produzidos em série fazendo todo mundo acreditar que você vai ter um relacionamento cheio de romantismo digno de livro sabrina e sexo digno de multishow pós meia noite. e galera, não é (bem) assim. deus divide tudo proporcionalmente (tenho certeza), e talvez, conseguir unir esses dois extremos seja quase que impossível pra reles mortais, e bem possivelmente você vai passar a vida toda tentando unir a pedra do arpoador com o sexo página 12 do kama sutra (é só um exemplo, não sei o que tem lá).

sério. conheço pessoas verdadeiramente frustradas por não conseguirem essa combinação, e isso me dá uma raiva enorme dessa indústria que transforma amor e sexo em uma cena artificial com 2 representantes plásticos de comportamento irreal.

a graça é justamente ser nada parecido com isso. ao contrário da "perfeição" dos filmes, novelas e até livros, a graça tá na simplicidade e não na esquizofrenia da coisa. a graça tá naquele cara que talvez não te dê rosas num fundo romântico, mas sabe te fazer rir, ou talvez num daqueles encontros que ok, não terminam com sexo no lustre mas rendem uma boa conversa despretensiosa.

porque na vida real, a graça, ao contrário da corrida por números altos na bilheteria e na venda de livros, tá no menos, e não no mais.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

é.

o namoro da minha prima de 13 anos, durou dois meses e meio. segundo ela, o namorado, de 19, era muito imaturo e ciumento. eu tenho 20 e o meu durou quatro. no próximo, peço conselhos pra ela.

petrópolis.

minha família tem casa em nogueira, petrópolis e apesar de hoje em dia ela não ter a mesma magia que tinha quando eu tinha meus 10 anos, minhas lembranças de lá são as melhores possíveis. eu fui pra lá ontem, domingo de páscoa pra um almoço de família, e particularmente achava que seria um saco. não pela companhia e sim porque fazia tempo que eu não saía desse meu caminho-de-todo-dia, e já tava totalmente contaminada com a certeza de que pra ser bom, o lugar tinha que ter barulho, gente, agitação. quem já foi a nogueira, sabe que o maior agito que tem lá, fora a praça, é na rodoviária, então as expectativas não estavam altas.

não sei se foi pelo clima da serra, ou se pela total tranquilidade que nogueira passa, mas pela primeira vez em tempos consegui relaxar. o lugar não tem aquela beleza óbvia, nem a estética que a gente tá acostumado a associar a lugares exuberantes, mas mesmo assim consegue ser lindo. tudo está em perfeita harmonia ali. a começar pela praça, que é o centro basicamente de tudo. quando tava passando com meus pais, bem onde era a estação do trem na praça mesmo, eles disseram que tinham se conhecido numa pizzaria que ficava ali, achei o máximo. praça tem sua bossa, podem ter certeza que quase todas, passam uma tranquilidade onde quer que se localizem, ali em nogueira, que já é tranquilo então, fica mais fácil se apaixonar.

o lugar é cheio de casas, você consegue ver o céu sem ter que espichar demais a cabeça, e a falta de barulho chega a causar estranheza aos ouvidos. ir pra um lugar desses, morando em copacabana no rio de janeiro, chega a ser engraçado. as pessoas não tem pressa! parece que ninguém tem compromisso ali, o único é o trânsito religioso entre a padaria, locadora, e um (ou dois no máximo) restaurantes aconchegantes que ficam por perto.
até o sol é diferente. é um daqueles que tá dá vontade de se jogar na grama e ficar por lá, sem hora nem nada.

depois de um tempo você começa a admirar muito esses lugares que são justamente bonitos pelos seus detalhes, é uma beleza tão sutil que alguém já corrompido pela rapidez do dia a dia passa batido.

acho que por isso que esses lugares não ficam tão perto do rio, a probabilidade de você ir e se render é alta, e essa perspectiva de não ter hora, pressa ou compromisso é tentadora demais pra ficar tão facilmente ao nosso alcance.

quinta-feira, 9 de abril de 2009

big brother, brasil.

escrever sobre big brother tá na moda, e como eu já não uso pó bronzeador e não vou pra baronetti todo final de semana pelo menos nessa onda eu entro.

tava lendo um post de um amigo (lado direito, link corramarry) e me deu esse clique; porque raios as pessoas odeiam tanto o big brother? numa dessas minhas conversas infinitas com meu irmão sobre tudo e o nada ele me disse que um dos planos dele pro ano que vem era se inscrever no big brother, e eu na hora falei; "cara, mas depois você vai se tornar um ex-bbb", isto é, minha primeira reação não foi nem pensar na passagem dele pelo programa ou num julgamento sobre a essência do programa, minha reação imediata foi julgar o status que ele vai alcançar depois.

convenhamos, o grande ódio contra esse reality show é pela possibilidade de você ser lembrado meramente por uma passagem medíocre e ganhar um prefixo de ex, mas pensando bem, quem nunca passou mediocremente pelas situações e/ou já não ganhou um título de ex? tudo bem, nem sempre é visto por milhões de pessoas, mas tenho certeza que nesse caso específico esse ódio se deve meramente ao medo do que os outros vão pensar da gente. entrar num big brother da vida é botar a cara pra bater e conheço poucos que assumem que o fariam, justamente por isso, tem que ter coragem.

meu irmão, particularmente, justificou sua vontade com uma ótima observação; a gente se prende demais a um papel só. se você é inteligente, não pode querer exibir o físico, se é gostosa é difícil que conclue uma faculdade e continua até o extremo; você pode até ser formado, ter pós-gradução, ser fluente em 7 línguas, viajado o mundo e ser gostosa que ao falar "queria ir pro bbb" vai ser estigmatizado como um pária na sociedade.

pessoalmente, minha relação com o big brother é de amor e ódio; apesar de adorar, odeio admitir com medo dos sermões dessa intelectualidade frustrada da média burguesia. ô gente chata. pergunte pra um desses o motivo deles odiarem; a maior parte vai se resumir no mesmo conceito, vai dizer que aliena as pessoas, que a maioria que tá ali gosta de aparecer e não tem cérebro. ok, ainda que fosse verdade, qual é o grande problema nisso? é sério, o que aconteceu com o entrenimento puro e simples? confessem; faz sucesso porque é uma combinação infalível, eles pegaram tudo aquilo que a gente gosta de ver e estabeleceram um horário pra passar na tv. todo mundo - às favas com quem mente o contrário - adora ver um barraco, todo mundo adora ver um romancezinho ainda que fake na tv, e todo mundo, principalmente aqui no brasil, adora tentar fazer justiça com as próprias mãos, e dar dinheiro no fim pr'aquele que foi "a" pessoa no programa, como retorno, é uma prova disso.

não é que as pessoas não gostem de big brother, elas não gostam é desse julgamento silencioso coletivo, que prevê que só porque você se interessa pela vida alheia, você se aliena do resto; é culpa de classe média, sobra sempre muita seriedade e pouco divertimento.
eu vejo e adoro big brother, me julguem, condenem, que seja, só não tentem me convencer de que num sábado à noite numa mesa de bar, essa gente fala de política e economia, porque nessa hora, você não quer saber se o brasil virou credor do fmi ou se o obama visitou o iraque, você tá querendo - e morrendo de inveja - saber do sortudo que ganhou um milhão de reais.

terça-feira, 7 de abril de 2009

sobre bairros.

sábado passado andando pelas ruas de meu amado bairro resolvi dividir uma teoria que eu tinha desenvolvido com minha companheira de assuntos estranhos, joana. (nem vem, todo mundo tem um amigo pra contar essas coisas) e era fazendo uma relação entre o bairro que eu moro, copacabana (...sinto copacabana por perto é o vento do mar..) e botafogo, bairro que fica a Band, onde eu estagiava.
pois bem, meu caminho era religiosamente o seguinte; eu pegava o 4-alguma-coisa, onde o ponto final é do lado da minha casa e saltava lá no rio sul, atravessava aquela passagem e depois andava uns 15 minutos até chegar e fazendo esse caminho todos os dias reparei o seguinte; as pessoas cismam que copacabana só tem gente estranha e maluca, o que é verdade, mas botafogo é totalmente proporcional a esse quesito! e pior, eles ainda não assumiram essa identidade. não ouso dizer que em o ar de copa é aquele ar provinciano do eixo ipanema-leblon, não, nós não temos o manoel carlos nem vinícius de moraes pra deixar qualquer coisa bonita, mas com certeza temos a maluquice característica de um bairro que totalmente já assumiu sua identidade, e é aí que ganhamos de botafogo. andando pelas ruas - muito mal pavimentadas e pequenas - de botafogo pude perceber que existe a mesma quantidade de gente estranha e maluca caminhando pelas ruas, mas ao contrário da minha galera eles possuem toda uma tensão no ar, é como se fosse o seguinte, se esses bairros fossem pessoas, copacabana seria o idoso que já sabe da sua idade e resolveu aprontar com os outros velhinhos da praça e botafogo é aquele que acabou de chegar na casa dos 70 e ainda não sabe o que fazer com aquilo. enfim, o que eu estou querendo dizer é que a maluquice é inerente a copacabana, e quem vive aqui, sabe disso. você não se assusta com quase nada que acontece aqui, e até se estranha se algum maluco não te abordar na rua. agora essa é uma novidade pra botafogo, eles possuem os malucos, mas não tem quem aprecie o show. imagina o drama.
pra mim tá sendo uma descoberta incrível morar aqui, tirando os dois anos que morei na barra antes de vir pra cá (papo pra depois, a barra merece um post só pra ela) e todos os outros que morei em ipanema, esse um aninho que estou aqui merece - e muito - ser celebrado.
e pode apostar, quando os outros bairros já estiverem na festa e for a hora do parabéns, devidamente representado pelo hino dos malucos na voz da rita lee, botafogo vai ser aquele primo invejoso emburrado, sentado no sofá.

domingo, 5 de abril de 2009

estive pensando.

"hedonismo 1) a doutrina que considera o prazer ou a felicidade como o único ou principal bem da vida; 2) estilo de vida de iluminação e gozo; 3) uma perspectiva muito agradável"
manual do hedonismo - michael focker

em algum momento desse ano eu devo ter soltado uma travinha maldita. poderia até arriscar um momento exato, mas como blog é público e sabe-se lá quem lê essas baboseiras fielmente escritas aqui, vou me conter.
mas a verdade é que eu tenho cometido verdadeiras insanidades e alguém, de verdade, precisa começar a me controlar.

eu sou uma pessoa tímida. sério. tirando os momentos que eu tô nervosa, que aí falo muito, ou estou sob ébria influência faço de um tudo pra entrar e sair (de prefêrencia) dos lugares sem ser percebida. até na sala de aula sofro daquele mal conhecido de gente tímida de não ousar falar ou perguntar nada ao professor, é uma angústia. tímido que é tímido sabe o que é isso, é um sofrimento diário. o professor pergunta, você sabe a resposta mas não há santo que te faça falar.

pois bem, outro dia na minha aula de direitos humanos constatei a minha falta de trava; depois de assistir um vídeo introdutório sobre o que são direitos humanos a professora abriu pra um debate, e aí veio o momento. não, claro que eu não saí falando, uma aluna começou a falar de um dos trechos, que era sobre o sequestro do ônibus 174, do filme, e em dado momento falou que apesar do pesares a gente devia entender o lado dos tais policiais do bope que fizeram a merdinha no fim. e aí, aconteceu, na hora eu soltei um riso, totalmente sem querer, e aí olharam pra mim. imediatamente senti meu rosto queimar, e aí já era tarde demais, fui obrigada a justificar meu risinho desdenhoso. maldita (faltade) trava. falei uns 10 minutos, e quando vi tinha instaurado uma discussão inflamada sobre o assunto.

ok, me senti bem, iniciei o caos na aula pacata que é direitos humanos e depois fiquei assistindo. uma conquista pro time dos tímidos. agora, a falta de trava nem sempre vem nos momentos acadêmicos, e é aí que mora o perigo.

uma amiga minha veio conversar comigo outro dia, pedindo justificativas para os meus surtos e eu, num discurso hedonista que nunca me pertenceu justifiquei falando que; "ah camila, você tem que se jogar, pára de passar vontade" e ela olhou e disse que não me reconhecia. taí, manêro. gostei da idéia de não ser eu. a nova élide então, comprou um livro pra aderir como bíblia, que foi "o manual do hedonismo" e vem seguindo até então. logo abaixo do título tá escrito assim "dominando a esquecida arte do prazer" e quem conhece esses gregos sabe que os caras sabiam se divertir. resumo, pra alguém como eu, ler algo assim é tentador, e justamente por isso, perigoso. no maior dionísio estáile venho surtando consideravelmente ultimamente e o que no começo era graça, agora tá virando dor de cabeça. quem já teve essa idade e/ou esteve nesse time dos gregos sabe que a graça tá nos primeiros 10 minutos da coisa. tá, ok, na primeira semana. toquei el joda-se e vim fazendo tudo o que queria fazer; se não tava com paciência pra aula, não ia, se queria beber em dia de semana, bebia, se tava com raiva de algum amigo ignorava ou xingava e outras pequenas permissões as quais me recuso a expor mais por apreço a mim e aos envolvidos, e o resultado foi surpreendente. claro que devo ter atrasado um câncer por guardar toda essa vontade por alguns anos mas em compensação essas pequenas permissões de "prazer" me renderam alguns maus bocados. esse gregos deviam viver pouco. é sério. hoje quando acordei com aquela conhecida dor de cabeça me senti com 60 anos. qual é a graça de bater estaca a noite toda se entupindo de cerveja? e o pior, tudo acontece num flash de 10 minutos, você estava de corpo, mas nunca de espírito.

deixei de lado o manual, minha mente é fraca e fiquei com medo de ler até o final. comprei outro, o nome é "como me tornei estúpido", (pede um risinho o título, eu sei) mas a história é gostosa, (vale a pena googlezar) e o que eu gostei mesmo foi do (curto) resumo da vida do autor; "martin page nasceu em 7 de fevereiro de 1975 e estudou antropologia. convencido de que a escrita não exige a convivência em ambientes hostis martin page tenta, até hoje, e desesperamente, levar uma vida tranquila". tenho vontade de ser amiga de um cara desses quando leio algo do tipo. dá pra imaginar uma vida melhor do que reclusão e escrita? melhor, a tentativa - desesperada - por uma vida tranquila?

dionísio pode me odiar agora mas enquanto eu não descubro os meios secretos de lidar com essa vida de festa os gregos vão ter que me desculpar, troco o hedonismo por tranquilo (adj. quieto; sossegado; calmo; certo; seguro.) e volto com a minha trava e timidez.